Muitas pontes pelo Rio

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Coletivos variados e conectados: novos/novas caras do Rio

O Rio de Janeiro passa por um momento de mudanças profundas e grandes expectativas sobre os impactos que elas vão causar na cidade. O desaparecimento da Perimetral é um marco desse momento, de trânsito caótico e luz do sol onde já estávamos acostumados com a sombra permanente do viaduto. Pensei na derrubada dessa enorme via de circulação, tão útil, feia, simbólica e polêmica, para buscar alguma analogia possível com o que tenho visto acontecer na cidade, muito mais impactante do que perceber o vão aberto sobre a Rodrigues Alves e a Praça 15. Inúmeras pontes estão surgindo no Rio, conectando gente de todos os cantos, que encara o caos do tráfego e do transporte coletivo, para estar junto com o outro, fortalecendo iniciativas que, sozinhas, seriam cascalho, mas juntas formam um bloco concreto de ações criativas, que estão mudando a cara, o corpo e o espírito da cidade de forma mais radical que qualquer transformação urbanística será capaz de fazer. Falo da conexão forte que vem juntando uma galera alegre, afetuosa, talentosa, bonita, produtiva e super disposta, que tem transformado lugares e visões, a partir daquilo que criam. E eles têm criado coisa à beça! Quem não se ligou vai levar um susto quando descobrir. O Rio está transbordando.

Alguns representantes (ou agentes, talvez seja melhor essa definição) dessas iniciativas que agitam o Rio estiveram juntos na tarde de quarta, 24/09, em duas mesas de debates sob o tema geral Territórios Compartilhados, parte do segundo e último dia do 1º Seminário Internacional de Psicopolítica e Consciência, organizado pelo professor Evandro Vieira Ouriques, da UFRJ, e realizado no Infnet. E o que Ratão Diniz, fotógrafo da agência Imagens do Povo, Léo Lima, do Cafuné na Laje, Carlos Meijueiro, do Norte Comum, Victor Hugo Rodrigues, do Honório Gurgel Coletivo, fazem é um convite para todo e qualquer carioca (de nascimento ou adoção) circular pela cidade, como eles, descobrindo gente, lugares, belezas que a cidade tem, além do cartão postal que a gente conhece e, claro, admira. E tem mais: foi a atuação de cada um na cidade que fez a conexão entre eles, que passaram a admirar os trabalhos um do outro, que passaram a frequentar as iniciativas uns dos outros. Sem a pretensão de resumir o que cada um disse, segue abaixo um apanhado geral, ou melhor dizendo, parcial, do que vi e ouvi desses caras inspiradores, que estou a cidade do Rio tem me dado a alegria de conhecer e, ainda que menos do que gostaria, conviver:

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Carlos Meijueiro apresenta o Norte Comum

“Acho que está se criando no Rio um movimento não nomeado ainda que vai gerar frutos. Querer pensar criticamente o Rio e querer aproveitar diferentes realidades. O Norte Comum tem sido um bom canal para isso. E o maior ‘perigo’ é a questão da amizade, porque quando a gente faz amizade, o elo fica difícil de quebrar. Aí o que acontece no Jacarezinho não é mais problema só do Léo, que mora lá. É meu também porque o Léo é meu amigo”, disse Meijueiro, na apresentação que fez sobre o Norte Comum, um conjunto de gente e iniciativas que tem movimentado vários bairros da Zona Norte do Rio. E se movimentar pela Zona Norte, usando transporte coletivo, não é simples, como sabe qualquer um que circule pela região por desejo ou necessidade. “A gente está discutindo mobilidade a partir da ideia do transporte público”, diz ele. “Complexos não são as favelas. Complexo é o Rio”.

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Léo Lima apresentando Cafuné na Laje

Léo Lima mostrou um dos filmes que realizou pelo Cafuné na Laje, uma ideia bacana que teve, de fazer filmes com crianças e adolescentes (adultos não estão excluídos, ele frisa), criando tudo junto com eles: da ideia à edição, tudo num dia só. O resultado são curtas lindos, poéticos, engraçados, realizados por meninos e meninas de vários lugares do Rio, especialmente na Zona Norte. “Não queria fazer cinema para, mas cinema com as crianças. Os filmes que a gente produz são brinquedos com as nossas caras”, disse Léo, agora estudante de Pedagogia, que discute a formação oferecida pelas escolas, o trato com a infância, o lugar do brinquedo, do lúdico, do afeto. “Do que vale a vida se não for para viver o encontro?”, resume Léo, que quer apenas “transformar cada corpo presente em uma mídia potente”.

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Ratão Diniz falando sobre seu trabalho como fotógrafo, na mesa que também teve participação de Evandro Rocha, Claudio Rabelo, Frinéa Souza Brandão e Paula Máiran

 

Ratão Diniz é autor de fotos desconcertantes da cidade vista sob novos ângulos. Formado pelo Imagens do Povo, misto de curso e agência de fotógrafos baseado na Maré, ele tem um trabalho revelador sobre o lugar em que vive, os bairros vizinhos, a Folia de Reis no Dona Marta, em Botafogo, o interior do Brasil, para onde foi num processo de reconexão com as origens do pai e da mãe, que vieram cedo para o Rio. Voltou com imagens de cores fortes, reveladoras até para quem estava habituado à paisagem. “A galera não enxerga beleza. Mas tem”, resumiu Ratão, falando tanto sobre a vila que fotografou no nordeste, como a realidade da Maré ou do Alemão, que compõem o seu trabalho.

O lugar de onde eu vim. Esse poderia ser um resumo singelo da questão que talvez seja central no Honório Gurgel Coletivo, uma ideia criada pelo Victor Hugo Rodrigues, impulsionada pelas angústias dele com o bairro em que mora e transformada num conjunto de ações que têm animado o lugar e jogado luz sobre o bairro. “No começo, eu queria transformar Honório Gurgel no Leblon. Depois, fui vendo outras formas de me reconectar com aquele lugar que eu tanto odiava”. A fala do Victor sobre a atuação do Coletivo nesse pouco mais de um ano de existência provocou a plateia sobre essa questão/problema, bastante comum a quem não nasceu na Zona Sul ou bairros mais centrais do Rio: a desconexão/negação do lugar de origem, apesar dos laços de afeto fortíssimos que nos ligam ele. Conciliar afeto e rejeição é um exercício enorme. E com uma alegria danada, o Honório Coletivo tem reconectado antigos e criado novos laços afetivos com o bairro, tornando tudo menos invisível.

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Victor Hugo Rodrigues falando sobre o Honório Gurgel Coletivo

Esses quatro rapazes se curtem, se frequentam, materializam essa ideia de redes que se conectam, estão abertos para a cidade – e se divertem à beça enquanto chacoalham o que a gente pensa e deseja para o Rio. São caras novas num movimento que sempre esteve ativo na cidade – o Luck GBCR, falando sobre movimento Hip Hop fez um ótimo histórico sobre criatividade-artes-mobilidade-periferia no Rio – mas que nesse momento tem como nunca a força da conexão, mais rápida e fácil, apesar dos perrengues da mobilidade que travam a cidade, isolam os bairros, dificultam a circulação e o encontro. Mas a disposição da rapaziada é enorme. E está em cena o poder da amizade. Aí, meu amigo…

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ps.: agradeço ao Victor e ao Evandro que me convidaram para mediar  a mesa da primeira sessão, em que participaram o fotógrafo Ratão Diniz, o pedagogo Evandro Rocha, de Amparo/RJ, o professor Claudio Rabelo, da Universidade Federal de Santa Maria, a psicoterapeuta Frinéa Souza Brandão, diretora da NeuroFocus Psicoterapias, a jornalista Paula Máiran, atual presidente do Sindicado dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro. Foi um prazer, além de um super aprendizado e uma possibilidade de novas (re)conexões.

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Anapuaka Tupinambá, que se paramentou e, em vez de falar sentado à mesa, preferiu o fundo da sala para fazer sua apresentação

A segunda mesa do dia teve mediação do George de Araújo, da Gerador Cultural, com Raízes Históricas Indígenas e da Rede de Cultura Digital Indígena, Luck Gbcr, da Universal Zulu Nation, Eduardo Forero, da Universidade del Magdalena, na Colombia (via hangout), Victor Hugo Rodrigues, do Honório Gurgel Coletivo, Leó Lima, do Cafuné na Lage, Carlos Meijureiro, do Norte Comum, e Afonso Celso Teixeira, do Sindicatos dos Professores do Município do Rio de Janeiro.

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Evandro Ouriques, coordenador geral do Seminário, encerrando os trabalhos

Para quem não conhece, a galera está aqui:

Cafuné na Laje: https://www.facebook.com/cafunenalaje

Norte Comum: https://www.facebook.com/nortecomum

Ratão Diniz: https://www.facebook.com/rataodiniz.diniz

Honório Gurgel Coletivo: https://www.facebook.com/honoriogurgelcoletivo

http://honoriogurgelcoletivo.wordpress.com/


1º Seminário Internacional de Psicopolítica e Consciência: para superar a discriminação foi uma realização do NETCCON em parceria com a Universidad de La Frontera-Chile, a Faculdade de Letras da Universidade do Porto e o Centro de Estudos em Tecnologias e Ciências da Comunicação-CETAC.Media, da Universidade do Porto e da Universidade de Aveiro, com o apoio do Núcleo de Marketing.ECO.UFRJ, da Agência 180o, de O Instituto e da Casa Fluminense e o patrocínio da UFRJ, do Instituto INFNET e da CONICYT-Comisión Nacional de Investigación Científica y Tecnológica-Chile.

Os holandeses do Alemão

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Numa maquete feita com isopor, tampas vermelhas e redondas de refrigerante fazem as vezes da cabine do teleférico, e o conjunto todo está assentado sobre uma base bem sinuosa, que tenta reproduzir a irregularidade e as nuances do terreno representado. Em duas paredes, fotos coloridas e bem contrastadas mostram comerciantes que resistem no tempo com suas vendas à moda antiga e vários tipos de lazer que existem por ali. Em outra sala, fotos e texto trazem a memória do lugar e uma frase de um morador de 83 anos se destaca: “o progresso é imparável”. Instalações que projetam um ambiente mais verde, paredes em que se pode escrever a ideia que se tem, croquis que mais parecem uma imensa e delicada aquarela, e um documentário sobre lixo renitente formam o conjunto da mostra Favela! Você Mesmo Faz, que abriu no domingo, 13/4, no Barraco #55, um centro de artes na Rua da Assembléia, 9, que fica na Alvorada, bem próximo à estação Itararé, a penúltima do Teleférico do Complexo do Alemão.

A maquete, o documentário e as fotos são obras de holandeses. O projeto de ambientes verdes, de um americano. Os desenhos dos croquis foram feitos sob a orientação de um chileno, com alunos da PUC e da UFRJ. O Barraco #55 é parceria de um carioca do Alemão. Ou seja, ali o arranjo é complexo. E superinteressante.

“O progresso é imparável”, sr. Florindo, 83 anos, há 70 vivendo no Complexo, sobre as mudanças na paisagem, cada vez menos verde

A mostra é interativa e quem está vendo pode escrever na parede os desejos que tem para o presente e o futuro do lugar, com lápis de cera colorido. No terraço da casa, alugada há dois meses para funcionar como centro cultural, o espaço é amplo e pode rolar música, cerveja, tapioca da Dona Francisca, vista para vários ângulos do Complexo, com direito a Teleférico passando em cima.

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Manoe Ruhe, a engenheira e urbanista holandesa, que fez a maquete em isopor, com auxílio também de moradores, acredita que o Barraco #55 pode aumentar o trânsito de turistas – estrangeiros ou brasileiros – na região, já que o maior fluxo de visitantes é para a última estação do teleférico, a Palmeiras. Ela chegou no Alemão há cinco meses, pretende ficar mais dois, e se comunica bem em português, que aprendeu ali, na marra. Acredita também que quanto mais gente for lá e se encantar com o que vê, mais fácil será desfazer os estigmas que existem em relação a todo(s) o(s) Complexo(s).

Bem perto do centro cultural, está a casa do Barraco #55 que funciona como hostel e residência dos artistas e pesquisadores como Manoe, que querem ficar no Alemão para desenvolver projetos que tenham alguma relação com aquela comunidade. Ben Stokke, o americano estudante de arquitetura, que persegue o verde que já foi abundante no passado mas sumiu da favela, está hospedado lá, onde mora a holandesa Ellen Sluis, que fez o documentário sobre o lixo, Prato do Dia, e o carioca Eddu Grau, agitador cultural e morador do Alemão com conexões com o mundo.

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As fotos expostas são de outro holandês, Martin Dijkstra. Os trabalhos sobre os possíveis usos dos espaços desocupados pela desapropriação de casas para instalação dos postes do teleférico, entre as estações Itararé e Palmeiras, são projetos finais da oficina Inovaurbe da FAU/PROURB/UFRJ.

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A ida até lá vale a pena. Pega-se o teleférico em Bonsucesso, na estação do trem, e em pouco tempo está-se morro acima, fazendo um sobrevoo interessante e muito ilustrativo sobre o significado do termo Complexo. É fácil chegar ao Barraco #55, que não fica muito distante da Estação Itararé – a caminhada pela Rua da Assembléia é boa para conhecer um pouco mais do lugar, como fizemos eu e o amigo Sergio Fagerlande, arquiteto e urbanista que me convidou para o programa.

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E não apenas o visual da cidade complexa impressiona: o som da comunidade invade (ou “ocupa”) as cabines que transportam o viajante pelo caminho aéreo, e é possível ouvir do alto do teleférico as crianças brincando, a música tocando, o jogo rolando – como uma curiosa e variada trilha sonora natural.

Moradores pagam R$1 e visitantes pagam R$ 5 por cada trecho do teleférico – e se alguém quiser se aventurar por outras estações e seguir viagem depois, vai ter que comprar novo bilhete para prosseguir (isso, aliás, poderia ser aperfeiçoado por quem administra o transporte).


A mostra fica em cartaz até 15 de maio, aberta às sextas (17h às 22h), sábados  e domingos (15h às 19h).

Mais sobre o Barraco #55 aqui: http://www.barraco55.org

2014

Este é um blog antigo – e regularidade nunca foi o seu forrte. Fiz quando resolvi passar um tempo fora, logo depois que saí da Globo.com, em 2008. Escrevi alguns posts de viagem e da temporada em Nova York, quando, entre várias coisas interessantes, pude ver de perto a explosão de alegria nas ruas pela eleição do Obama. Havia muito mais para registrar, mas faltou disciplina e o blog murchou. Foi reativado novamente, mas se alguém tiver disposição para rolar as páginas abaixo, vai perceber que os posts remetem a 2009, e o tema predominante são as incursões no universo da cultura digital. Tem motivo: era uma discussão avançada, dinâmica, super interessante que estava em curso e sendo liderada pelo Ministério da Cultura, na época em que eu estava chegando à Funarte, começando a trabalhar como coordenadora do Portal das Artes. A missão principal era transformar em conteúdo o acervo que estava sendo digitalizado. Foi uma oportunidade e tanto e, mais uma vez, havia muito para escrever e registrar, mas o blog foi mais uma vez neglicenciado e muito dessa experiência acabou dispersa em outros fóruns – ou simplesmente em textos nunca compartilhados. Agora, uma nova tentativa de botar ação A Unidade Móvel, registrando o que tenho visto, pensado, observado, nas andanças pela cidade – toda a cidade. Poderia ter inventado um blog novo, mas preferi voltar a ativar este, deixando os posts antigos como registro e rastro. Espero que a disciplina de agora seja maior e que o prazer que vença o prazer que tenho de escrever. O futuro dirá.

 

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Os conteúdos produzidos a partir do acervo digitalizado da Funarte estão disponíveis na área Brasil Memória das Artes.

Além de textos e reprodução de fotos do acervo, produzimos vários vídeodocumentos, que estão disponíveis também no  Youtube.

Um dia talvez escreva sobre mais sobre isso.

 

Tudo junto e misturado

Seminário Internacional do Fórum da Cultura Digital Brasileira, na Cinemateca Brasileira, em SP

Não teve funk carioca na programação musical do Seminário Internacional do Fórum da Cultura Digital Brasileira, em São Paulo. Mas alguns dos versos de Junto e Misturado, a letra de MV Bill, podem traduzir em poucas e certeiras palavras tudo o que aconteceu nos quatro dias intensos em que um público estimado em 700 pessoas se dispôs a ouvir, pensar, refletir, compartilhar, criticar e colaborar com o que está sendo chamado de “cultura digital brasileira”.

O bonde tá formado, eu sou um elo da corrente que é ruim de quebrar
Tamo junto!
Se quer subtrair, fique por aí se não tiver a fim de somar
Tamo junto e misturado, é lado a lado

Era esse o clima do evento em São Paulo, primeiro encontro presencial daqueles que, mesmo nem tão assiduamente, vêm tomando parte das discussões online, feitas na plataforma do Fórum da Cultura Digital Brasileira, aberta a quem quiser participar.

Cinemateca Brasileira, onde foi realizado o Fórum da Cultura Digital

Cinemateca Brasileira, em São Paulo, onde foi realizado o Seminário Internacional do Fórum da Cultura Digital Brasileira

E o que se discutiu por ali? Ideias, caminhos para uma política de uso da rede, assuntos áridos como o  marco civil da internet (com partipação de representantes do Ministério da Justiça), a economia da cultura digital (quais são os modelos sustentáveis? o quanto se ganha? quem ganha?),  direito autoral na internet, experiências  em outros lugares do mundo, enfim, assuntos abrangentes e convergentes, tratados de forma séria, mas num clima nada hostil, que convidava ao debate e à participação.

Claudio Prado, um dos idealizadores do Fórum, resumiu o encontro na belíssima Carta da Cultura Digital Brasileira, lida por ele na (des)cerimônia de encerramento, que teve a presença do Ministro da Cultura Juca Ferreira e suas meias coloridas.

No prédio tombado da Cinemateca Brasileira – o antigo matadouro hoje é Patrimônio Histórico -, o Fórum deixou lado a lado teóricos das novas mídias, usuários da rede, hackers, representantes de tribos indígenas, quilombos, amantes dos games, o povo da arte digital, engenheiros que fazem a infraestrutura da rede, os que se preocupam com a preservação e difusão da memória digital, gente do Partido Pirata Sueco, do Google, gente criativa como a galera do circuito Fora do Eixo, capitaneada por Pablo Capilé, uma dessas figuras que, quando se descobre, tem-se a nítida impressão de que tudo o que a gente conhece até o momento não é nada diante de alguém criativo e bem articulado.

Esses são pequenos flashes da parte diurna do evento, composta por palestras, rodas de conversa, plenárias e muito bom papo de corredor.

Ao fim do dia, o movimento natural de todo mundo que desde o início da manhã tentava participar o mais que podia de todas as discussões, era a Tenda do Circo, armada numa partes do imenso terreno da Cinemateca. Ali durante três noites, subiram ao palco atrações musicais pouco conhecidas, cultuadas ou tradicionais, em shows memoráveis.

Para muitos – como eu – os shows foram mais uma descoberta de um mundo novo: Macaco Bong, Teatro Mágico, Tambores de Aço… Onde é que eu estava que eu não os conhecia?

A última noite, total clima de festa e confraternização, Banda Black Rio e Mano Brown dividiram o palco. E aí o choque: para quem é do Rio e nem tão ligado assim em rap, Mano Brown é um nome conhecido e ponto. Para quem é de São Paulo (ou para quem ‘tá ligado’), o cara é um mito. E quando um mito faz quase um pocket show, pode-se dizer que aquela foi uma audiência privilegiada.

Há ótimos resumos sobre o que foi discutido e vivido no Fórum espalhados pela rede e eles vão continuar surgindo à medida que os participantes forem compartilhando suas experiências. Aqui, algumas imagens. E convém leitura dos documentos que foram debatidos nas plenárias e que continuam abertos à consulta e interferência públicas, na plataforma do Fórum, que continua ativa – ou melhor, que, espera-se, será muito mais ativa agora, quando muitos membros virtuais se conheceram pessoalmente – e nada substitui o contato pessoal.

Cerimônia de encerramento do Semináio Internacional do Fórum da Cultura Digital Brasileira, na Cinemateca Brasileira, em SP

Acesso à internet banda larga, qualificação do uso da rede, direito autoral, economia da cultura digital, regulação da rede, comunicação, arte, remix… Todos esses são assuntos pertinentens ao Fórum e que afetam a vida de todo mundo que está conectado – e a de quem não está também. E é feliz e inspiradora a postura do Ministério da Cultura, que tomou a dianteira e está propondo essa reflexão, usando o argumento simples de que, na rede, estamos produzindo cultura. Ideias que surgiram ainda em 2003, quando Gilberto Gil (salve!) assumiu o ministério e que continuaram com força, depois da saída dele.

Afinal, um novo jeito de fazer política pública – como o Fórum se anuncia.


Quem vê a gente fica agoniado
Não sou teleguiado, multiplico no conjunto
Aos guerreiros e guerreiras que lutaram “Tamo junto”
É fácil copiar, difícil é criar
Se for falso é como água e óleo
Não consegue misturar

ps.: depois deste e do longo resumo do primeiro dia, podem surgir outros posts com temas mais específicos tratados no Fórum. Não é uma promessa, mas um desejo – e será, ao menos, uma tentativa.

Evoé #culturadigitalbr – uma geral pelo Fórum dia 1

Empolgadíssimo, José Celso Martinez Correa transformou a cerimônia de abertura do Fórum da Cultura Digital Brasileira, iniciado nesta quarta, 18, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, num manifesto à liberdade. “O amor é livre, a vida é livre, a morte é livre”, foi enumerando, dando vida às palavras que saltavam do texto que ele assinou em coautoria com ninguém menos que Machado de Assis. O texto – na verdade, um roteiro, com marcações, falas de diferentes personagens e participação de coro – misturou Antonio Conselheiro e defesa da pirataria digital, com a platéia sendo convidada a participar ativamente da leitura dramática feita por Zé Celso, apresentado como “tragicômico dramatorgiástico do Brasil”. Puro Zé Celso.

Foi com a performance de Zé Celso – que desfiou uma sequencia de frases surpreendentes, divertidas, exageradas, nonsense, provocantes, inteligentes – que o dia de estréia do Fórum da Cultura Digital fez o link entre a programação das salas e a da tenda do circo, armada no enorme terreno da Cinemateca Brasileira.

Belíssimo, o prédio da Cinemateca foi transformado num verdadeiro ambiente digital, com uma cenografia interessante, montada para o Fórum e cheia de conceitos: o redário está ali porque, afinal de contas, evento de internet tem que ter rede. Em outro espaço, fios transparentes demarcam as “salas”, mas nada é fechado e todo mundo pode ver tudo, como numa rede social. Entre um galpão e outro, o teto transparente também foi cenografado, e palavras e expressões como “cultura digital” podiam ser lidas acima das cabeças, envolvendo todo mundo nesse ambiente bem real.

A programação vai durar até sábado, nesse formato: discussões de manhã e à tarde, show no fim do dia. Há muito a se ver, ouvir, discutir, pensar, refletir, discordar, descobrir. Neste primeiro dia, deu para perceber o clima dos participantes e a animação da organização. É um evento do Ministério da Cultura, o objetivo é bem sério e complexo, mas o formato é de um encontro prazeroso, onde pessoas interessadas num mesmo assunto vão ficar num ambiente bastante agradável falando do que gostam – mesmo que as discussões sejam áridas e, por vezes, acaloradas.

Na primeira rodada, Silvio Meira abriu os trabalhos falando sobre os white spaces, ou espaços em branco, o que ele defende para tornar possível o acesso à rede para todos. Conectividade gera o lado de fora, pregou. Na mesma mesa, falou-se de infraestrutura de rede, papel desempenhado pela RNP, de uso da rede por comunidades tão diversas como a Rede Mocambos, que reúne quilombolas do Brasil, falou-se de inclusão, falou-se de tecnologia, falou-se sobre cultura digital.

Ao mesmo tempo, em outra sala, uma plenária (plenária = reunião que vai render documento sério) tornou palpável um dos grupos ativos do Fórum virtual, que discute Acervos Digitais. Todo mundo critica que a gente não tem memória, mas discutir o assunto a sério, árido em muitos aspectos, é tarefa que não atrai uma multidão. Pena. Mas, ao mesmo tempo, foi ótimo ter um grupo pequeno e focado falando de dificuldades, pensando em possíveis soluções, enfim, trocando ideia, botando a cabeça para funcionar e, quem sabe, ajudar a construir algo interessante.

No meio de tudo isso, muita área de convivência, muitos sotaques, muita conversa paralela de boa qualidade, muita gente interessante falando de coisas idem, num simpático ambiente de caos agradável – o evento começou com atraso, a programação sofreu mudanças de última hora, como foi primeiro dia, primeiro encontro, ninguém sabia muito bem onde pôr a mão (ah, os primeiros encontros), mas nada disso comprometeu o Fórum, muito pelo contrário.

Tem uma ousadia nessa iniciativa de discutir tanto assunto polêmico num ambiente aberto, numa rede social nem sempre tão simples de navegar e de se achar. Tem um porém aí, que é estar na rede como pessoa física, mas também falando de experincias institucionais. Tem um monte de encrencas não resolvidas, que vão surgindo pelo caminho, exigindo que se pense em novas soluções. Nada mais web! Para quem ainda não entendeu qual é a do Fórum de Cultura Digital Brasileira, a linha de apoio abaixo do nome dá uma bela dica: um novo jeito de fazer política pública.

Parece ousado – e é. Parece caótico – e é. Parece confuso – e também é. Mas justamente por isso tudo o fórum é tão interessante. Quer juntar no mesmo ambiente, falando de igual pra igual, gente que se comunica por memorando carimbado em três vias, com gente que fala tudo o que tem pra dizer na lata, direto, em 140 toques e está tudo certo – e bem dito.

Gosto de participar dessa experiência e gosto de saber que tem tanta gente do duro universo burocrático apostando nela. Ao menos por curiosidade, o Fórum merece ser visto com calma e atenção. É tudo muito novo – e muito interessante.

O dia em que retwittei Pierre Lévy

Aconteceu neste sábado, 12 de setembro, depois de um mergulho em Ipanema, que marcou o intervalo de um dia navegando na web. Em determinado momento, aparece um micropost de Pierre Lévy (que comecei a seguir há pouco, depois de assisti-lo no youtube), apontando para um artigo em português, escrito no blog de nome inspirado: Tudo 2.0 – porque navegar é impreciso.

Com todo o risco de parecer naif: é incrível essa sensação de proximidade que a internet proporciona. O Pierre Lévy que retwittei sem cerimônia (ele está ali para isso, afinal de contas, como todos os outros que se jogaram nessa rede) é o mesmo que escreveu um dos livros que tem andado comigo pra cima e pra baixo, As Tecnologias da Inteligência, uma daquelas obras que nascem clássicas, e se mantém assim, porque foram capazes de prever um fenômeno que se confirmou na prática – muito antes que pudéssemos imaginar que aquilo, de fato, iria acontecer.

Capa de As Tecnologias da Inteligência, de Pierre Lévy

Capa do livro 'As Tecnologias da Inteligência', do francês Pierre Lévy

O que vivemos hoje na web estava pensado e refletido no livro de Pierre Lévy, publicado em português em 1993 , quando ninguém imaginava que o teórico um dia estaria ao alcance de um RT (cabe explicar: as iniciais que indicam que se está citando ou repassando um tweet feito por outro, que a gente achou por bem mandar adiante).

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Apuração completa: o blog Tudo 2.0 – porque navegar é impreciso fez um resumo da entrevista de Pierre Lévy à revista francesa Multitude, onde está a entrevista completa do filósofo, em francês. Como dito na página “sobre“, o blog é mantido por José Paulo de Araújo, doutorando do Programa Interdisciplinar de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da UFRJ.

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Para terminar, a primeira parte da entrevista de Pierre Lévy ao Atopos, da ECA/USP, e disponível no Youtube:

Na Casper Líbero, ao vivo, sem sair de casa

Vi noutro dia no twitter o link para uma matéria que falava sobre a teoria de uma psicóloga afirmando que twitter emburrece mais do que facebook. Como estamos numa época em que ninguém sabe muito bem onde isso tudo vai dar, teorias mais ou menos interessantes (esta é do segundo caso) pipocam em todos os lugares, tentando adivinhar o que estamos vivendo.

O nariz de cera (quem aprendeu a escrever lead sabe o que isso significa) é para dizer que via twitter, aquela ferramenta que para a psicóloga emburrece, cheguei num seminário sobre mídias digitais, realizado pela Casper Líbero em São Paulo e transmitido ao vivo pela web. O programa não estava na agenda, eu não sabia que aconteceria, não tinha me organizado para assistir, e nem sofri com a impossibilidade de ir a São Paulo no fim de semana para participar.

Mas eis que, da tela do meu computador, sem sair de casa e sem interromper o café da manhã, enquanto checava email e twitter, descobri o link e, num clique, estava eu assistindo ao III Seminário Tendências Conectadas nas Mídias Sociais, que teve na primeira mesa os jornalistas Pedro Doria, do Estadão online, e Fabiana Zanni, da Abril, mediados pelo professor Walter Lima. Que não conseguia assistir aos vídeos tinha a possibilidade de acompanhar trechos da palestra transmitido em tempo real, via twitter.

As conversas sobre internet são sempre interessantes e se os interlocutores são bons, a história fica melhor ainda. Na apresentação de Pedro Doria, a revolução digital de agora ganhou um contexto histórico importantíssimo: ele voltou no tempo, antes de Gutenberg e a invenção da imprensa, para explicar como o mundo mudou a partir da descoberta de que um livro podia ser copiado e distribuído. Em meia hora, um passeio pelo tempo em que a igreja era o centro de informações, o padre o único que sabia ler e a Bíblia, o único livro, até o momento atual, de todos falando com todos.

Gutenberg, Machiavel, Lutero, Adam Smith… Perspectiva histórica, religiosa, econômica, várias revoluções ao longo da história, que nos fizeram chegar onde estamos hoje e vai nos levar para não sabemos onde ainda.

E nisso tudo, a imprensa descobrindo como conviver e sobreviver num momento em que as notícias podem vir de várias fontes, as conversas acontecem em todos os lugares, e o “cercadinho” que os jornais criam na web para manter os leitores naquele universo não comporta mais o mundo aberto da web.

Doria usou a expressão do “cercadinho” quando falava sobre a lógica de criação de vários portais, que têm a pretensão de oferecer ao leitor tudo o que ele precisa naquele espaço, afinal de contas fechado, em que ele não precisa ir para fora, em outros links e janelas, para ter o que quer. Este portal vira o grande provedor para o leitor.

O problema, ou melhor, a questão é que este leitor é livre e não há como mantê-lo no cercdinho. Os jornais têm que ter para lidar com isso, assim como os jornalistas têm que aprender a lidar com uma realidade que, incrivelmente, muitos ainda resistem: a web é uma realidade para a nossa profissão e a vida digital que se constrói, cada um do seu jeito, é importantíssima para garantir a própria sobrevivência do jornalista nessa nova realidade.

“Jornalistas não podem mais ter vidas anônimas dentro da internet. O futuro da carreira deles vai depender daquilo que você constrói sozinho, por conta própria”, foi uma das frases de Doria.

Para terminar, uma pergunta para a mesa via twitter, de alguém que estava em Florianópolis, levantou a bola para a polêmica da semana, sobre a restrição que Globo e Folha fizeram ao uso de twitter, blog e outras ferramentas de uso social por seus contratados.

Fabiana e Doria concordaram (aliás, não há como pensar diferente) que a medida é um exagero e, como disse Pedro Doria, ilustra o que ele dizia antes, sobre a resistência no Brasil ao uso e discussão sobre as novas mídias digitais. O novo assusta, o novo exige aprendizado e, certamente, a proibição não é a melhor maneira de lidar com o assunto.

Para Fabiana Zanni, talvez muitas dessas pessoas sem noção, que saíram por aí falando bobagem, não tinham noção do tamanho da exposição que poderiam alcançar. Acredito que elas sejam mesmo sem noção, mas tenho dúvidas se não sabiam sobre o tamanho da exposição que estavam se dando… Aí entra uma outra lógica das chamadas “celebridades”, outro papo…

Por ora, apenas o registro de uma grata surpresa numa manhã de sábado, em que fui a São Paulo sem sair do meu escritório azul, nem tirar Havaianas dos pés ou deixar de tomar meu café da manhã, relaxadamente, sem sair de casa.

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Links que descobri através das palestras:

Jortec_A Rede de Pesquisa Aplicada Jornalismo e Tecnologias Digitais

Grupo de Pesquisa: Comunicação, Tecnologia e Cultura da Rede (TECCRED)

Artigo Where’s Everyone, sobre evolução da comunicação através do tempo

Steve Rubel, que está fazendo experiências sobre algo entre o blog e o twitter

Para terminar, uma entrevista com Rubel, quando esteve no Brasil, recentemente.

Se beber, não mande email. Antes, faça contas

A cena é clássica: chega-se em casa tarde da noite, com aquela lucidez de pensamento que só doses etílicas são capazes de proporcionar. Com as idéias a mil, a inspiração a toda, a primeira providência é resolver tudo o que não tinha sido até então. É tarde. Telefonar não pega bem. Mandar torpedo nem pensar – afinal, o que se tem para falar não cabe na tela do celular. Dormir não dá. Só há um caminho, que a tal clareza etílica garante ser o melhor, o único deles: ligar o computador, abrir o email e soltar o verbo!

Nada como uma madrugada altinha para ter to-da-a-cla-re-za-do-mun-do e sair por aí dizendo verdades, resolvendo relações, apertando o enviar e… pronto! Está feita a (perdoem, mas não há outro nome) cagada!

Quem nunca passou por uma situação dessas e que atire a primeira pedra virtual.

Foi por isso tudo que adorei ter descoberto na aba Gmail Labs (uma que nunca tinha reparado) um bloqueador de inspirações noturnas – e provavelmente etílicas -, aquelas que só fazem piorar o estrago e normalmente provocam o maior constrangimento no dia seguinte.

Ativei vários serviços disponíveis nesse Gmail Labs e os óculos de proteção para emails (o nome seria porque ficamos meio míopes quando bêbados?) foi um dos mais divertidos. Há problemas, claro, mas nada que ir lá nas configurações e desativá-lo não resolva. Foi o que fiz quando, às dez da noite, ele já me botou vários problemas para resolver, antes de me deixar enviar um simples “ok” como resposta de um email qualquer. Bem humorada, a mensagem na telinha começa: “É aquela hora do dia”…

Com essa ferramenta, é como se o Google dissesse: resolvendo esses problemas, evita-se vários outros...  Às vezes eles têm razão...

Com essa ferramenta, é como se o Google dissesse: resolvendo esses problemas, evita-se vários outros... Às vezes eles têm razão...

Com a tela cheia de continhas para fazer, a traquitana virtual parece dizer que se você for capaz de resolver esses problemas, vai ser de evitar vários vários outros.

As contas são bobas, mas é tão chato descobrir quanto é 69-39 ou 38+18 (você tem que resolver todos os problemas) que o bêbado inspirado acaba desistindo.

Desativei, mandei os emails que tinha que mandar e reativei de novo a ferramenta porque vai que a tal inspiração etílica baixa uma madrugada dessas e saio eu por aí dizendo verdades sem conseguir retirar o que disse depois, já que a tecla enviar é implacável.

Aliás, nem tanto! Está lá também no Gmail Labs, pronta para ser ativada, uma ferramentinha que permite arrependimentos depois que o enviar foi clicado. Mas tem que ser arrependimento rápido – do contrário, babau.

Perdi um tempo entendendo os diversos níveis de ninja, que eles escolheram para classificar os usuários dos vários servicinhos disponíveis, do mais básico (faixa branca) ao mais habilidoso (mestre), passando pelas faixas verde e preta. Uma bobagem engraçada, que inclui ferramentas como estes óculos de proteção para email, certamente criadas por quem observa o comportamento dos usuários, que vivem repetindo histórias de verdades ditas tarde noite, por email, que se transformaram num constrangimento na manhã (e nos dias!) seguinte, quando a sobriedade volta com força e tudo fica confuso de novo…

Chácaras, ginga e coração

Faltou incluir no post anterior uma parte importantíssima dita pelo professor Takeshi Tome, no encerramento da palestra, sobre o “fascínio da tecnologia” e todo esse avanço da técnica. “A comunicação sempre foi e sempre será a mesma coisa: não uma comunicação entre em máquinas, mas de coração a coração”, encerrou ele.

Dito por mim, parece bobo. Dito por ele, fez (e faz) todo o sentido. Por isso reproduzo aqui.

A reflexão sobre essa evolução tecnológia tem que ser ampliada e ficar cada vez menos restrita ao campo da engenheria e atingir os “leigos”, produtores de conteúdo, gente que não sabe que sabe das coisas e que tem nas mãos um instrumento sensacional para fazer o uso que quiser – espera-se que bom.